No universo financeiro tradicional, é praticamente impossível para uma pessoa comum criar um novo ativo negociável. O blockchain resolve esta limitação; hoje, qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, consegue criar ativos na Solana em segundos e com custos praticamente nulos.

Como consequência, surgiu uma verdadeira explosão de ativos gerados por utilizadores (UGAs). O conceito de UGAs existe no ecossistema cripto há já alguns anos, começando com social tokens (ex.: BitClout, FriendTech) e, mais recentemente, com memecoins (pump.fun) e content coins (Zora).

A estrutura fundamental das modalidades de negociação nos mercados secundários manteve-se praticamente inalterada desde o surgimento da Internet. Os primeiros serviços de corretagem online de há três décadas tinham uma configuração semelhante ao que vemos hoje na Robinhood, Coinbase ou Phantom: o utilizador procura pelo ticker ou endereço do contrato do ativo, acede à respetiva página—com gráficos, notícias e botões de compra/venda disponíveis.

Este conceito aplica-se a praticamente todo o comércio digital, não apenas às finanças. Plataformas como eBay e Amazon usam a mesma lógica base.

A infraestrutura cripto permite aos programadores integrarem facilmente funções de criação de ativos e operações de compra/venda em qualquer software. A flexibilidade deste ecossistema resultou, nos últimos anos, no surgimento de novos launchpads e modalidades de negociação, desviando-se substancialmente do fluxo tradicional da Phantom. Este desenvolvimento tem sido pouco reconhecido e pretendemos destacar aqui algumas observações relevantes.

O nosso parceiro Shayon já discutiu uma variação desta ideia num artigo publicado há um ano sobre Publisher Exchanges.

Existem launchpads e modalidades de negociação que ganharam relevo nos últimos anos, bem como algumas áreas emergentes com potencial por concretizar:

Launchpads/Sistemas de criação de ativos:

• Pump.fun
• Zora

Modalidades de negociação:

• Bots Telegram individuais
• Bots Telegram em grupo
• Feeds de rolagem contínua
• Terminais de trading
• Tokens de transmissão em direto
• Interfaces inspiradas no Tinder (deslizar)

Launchpads

O Coinlist foi o primeiro launchpad no setor cripto, pioneiro no modelo SAFT e no desenvolvimento de ICOs reguladas, com destaque para a venda da Filecoin em 2017. Hoje, o Coinlist permanece ativo e continua a apoiar projetos inovadores, como a recente venda de validadores da DoubleZero e a venda comunitária da Pipe Network.

Em 2019, a Binance lançou o seu Launchpad, que permanece operativo e é reconhecido pela curadoria criteriosa dos ativos apresentados.

Na fase de lançamento das L1 (2020-2022), dezenas de equipas disputaram “terreno” nos novos L1s como Solana, Polkadot e Avalanche, através da criação de launchpads. No entanto, à exceção de alguns casos, a maioria destes projetos acabou por desaparecer.

Podemos afirmar que nenhum destes launchpads conseguiu encontrar a fórmula definitiva para o sucesso. Contudo, no início de 2024, a pump.fun conseguiu esse feito.

A pump.fun, após dominar o processo de emissão, começou a expandir-se verticalmente e horizontalmente, desenvolvendo o seu próprio AMM e novas modalidades de trading.

Não acreditamos que a única via para criar confiança em lançamentos de memecoins seja a conjugação da bonding curve e do mecanismo de graduação introduzidos pela pump.fun. Procuramos equipas com uma visão única sobre microestrutura de mercado que possam criar mecanismos de lançamento e modalidades de trading mais avançadas.

Recentemente, a Zora tem procurado incentivar o comportamento dos utilizadores em torno dos content coins, embora esta ideia ainda não tenha alcançado um encaixe claro no mercado.

Modalidades de Trading

A seguir, analisamos as principais modalidades de trading existentes:

Bots Telegram Individuais

Bots como Banana Gun, Unibot, Bonkbot, Trojan e Maestro tornaram-se populares no verão de 2023. Para muitos utilizadores habituados à interface tipo Phantom, estes bots podem parecer confusos. A gestão de portefólio é limitada, devido às restrições da API do Telegram, mas estes bots são excelentes noutras áreas:

1. Comodidade — utilizadores que já passam tempo em chats Telegram podem reagir rapidamente a sinais de mercado. Abrir uma wallet externa, como Phantom, normalmente acrescenta 5 a 10 segundos à execução da operação. Os bots Telegram conseguem executar ordens entre 1-2 segundos. 2. Sniping — muitos bots oferecem funcionalidades automáticas para comprar em lançamentos de tokens, explorando a urgência e o desejo de estar entre os primeiros.

É evidente que bots Telegram, tanto individuais como em grupo, podem integrar LLMs para operações mais complexas—empréstimos, looping, depósitos em vaults, entre outros. Embora o setor esteja entusiasmado com LLMs, na prática estes são apenas uma ferramenta de otimização e não uma alteração estrutural da modalidade de trading.

Carteiras como Phantom e BackPack deverão integrar bots assistidos por LLM num futuro próximo, o que poderá esbater a fronteira entre corretoras tradicionais e bots Telegram, mas não deverá ter impacto significativo nos bots Telegram especializados.

Muitos bots Telegram evoluíram, expandindo a sua oferta. O Unibot, por exemplo, tornou-se um terminal de trading completo.

Bots Telegram em Grupo

O PVP é o melhor exemplo de bot em grupo no Telegram. O bot integra-se num chat de grupo, onde pode dar ordens (ex.: /long BTC), que são executadas de imediato como contratos perpétuos BTC-USD, acompanhados de gráficos e notificações para o grupo. Os membros podem logo copiar negociações ou fazer negociações contrárias.

O real valor do PVP está na dinâmica de grupo — camaradagem, competição e humor são o centro da experiência. A interação emocional é intensa e impossível de replicar; por isso, a retenção de utilizadores é elevada.

Atualmente, o PVP foca-se em trading de contratos perpétuos na Hyperliquid, mas é fácil antecipar a evolução para memecoins, ativos fundamentalistas, ações e apostas desportivas.

Feeds de Rolagem Contínua

Doomscroll é intencionalmente usado de forma positiva. Twitter, Instagram e TikTok dominam a agregação de conteúdo com este formato.

Redes como Farcaster, Lens, 0xppl, Bags e Zora tentam desenvolver feeds de rolagem contínua inspirados nas grandes redes, mas com funcionalidades cripto-native como trading. O problema tem sido a falta de conteúdo relevante, difícil de superar perante o efeito de rede das plataformas líderes.

A Zora destaca-se por combinar criação de ativos e novas modalidades de trading. O feed inspirado no Instagram atribui 1B memecoins a cada conteúdo, com 1% reservado ao criador. O modelo fomenta a monetização, mas ainda não foi provado que os conteúdos são suficientemente colecionáveis.

Carteiras como Phantom, MetaMask, Backpack e Rainbow ainda não tentaram conciliar feed de rolagem contínua com cripto. A Coinbase Wallet anunciou futura integração do Farcaster, sem que se espere resolução dos problemas de quantidade e qualidade de conteúdo.

Equipas como token.com e Involio criam feeds exclusivos para traders, integrando trading com a descoberta de conteúdo de forma natural. Inspirados no TikTok, são sobrepostos a agregadores existentes, embora dependam do suporte de APIs externas.

Vector desenhou um feed de rolagem contínua em que cada elemento representa uma negociação, não apenas uma publicação social. Esta abordagem concretiza o conceito de “invista no seu próprio insight” melhor que os modelos centrados no conteúdo.

O Vector enfrenta o desafio de alimentar o feed com operações interessantes; a solução ideal poderá passar pelo uso de IA para extrair dados de múltiplas fontes e gerar conteúdo relevante de forma automática.

Feeds de rolagem contínua eficazes geram envolvimento massivo, alimentando ciclos de dopamina e atraindo investidores individuais. Este pode ser o maior espaço de oportunidade de consumo cripto, apesar das dificuldades inerentes.

Terminais de Trading

Cada trader procura uma interface que melhor se adapta ao seu estilo e objetivos. Quem aderiu ao Moonshot por influência do TikTok tem interesses muito diferentes de quem faz scalping na Deribit por razões macroeconómicas.

O jogo das memecoins é distinto e desafia a lógica tradicional de mercado—por exemplo, traders lucrativos aceitam 10% de deslizamento para antecipar três blocos relativamente à concorrência. O sucesso na pump.fun resume-se a duas variáveis: rapidez na descoberta/executação de ativos e força do sinal social—isto é, quantas e quais pessoas estão a observar determinado ativo.

As memecoins representam a “financeirização da atenção” e uma cadeia de negociação em constante evolução. Emissores, influenciadores, executores rápidos e investidores individuais competem por esta atenção. O papel fundamental dos terminais é facultar ferramentas de análise e atuação eficaz na cadeia, recorrendo a execução ultrarrápida (via bundles Jito, RPCs personalizados), análise social/endereço detalhada (etiquetas, métricas de concentração, indexação eficiente on-chain, e métricas off-chain).

O principal ensinamento dos últimos dois anos é simples: os traders mudam de interface sem fidelidade.

O desafio já não é “melhorar o Axiom”, mas sim acompanhar a evolução das memecoins à medida que surgem novos ativos e perfis de traders. Novas plataformas irão adaptar-se ao movimento do mercado—estruturas mudam, oportunidades crescem e novos players entram em cena.

Tokens de Transmissão em Direto

Um dos nossos investimentos, Unlonely, explora áreas onde livestreaming e tokens convergem. A pump.fun lançou um produto de transmissão em direto que, após reestruturação, está a ganhar tração.

O livestreaming é particularmente interessante para trading de tokens, pois o streamer pode envolver o público diretamente: incentivando compras/vendas, promovendo objetivos comuns e estimulando ações coletivas (“faço X se a capitalização de mercado atingir Y”). Contudo, esta dinâmica tende a impor tetos na valorização dos tokens.

O Fishtank exemplifica um reality show interativo, realizado em tempo real num ambiente confinado e vigiado, onde o público pode comprar tokens para influenciar acontecimentos, enviar mensagens, lançar desafios ou mesmo retirar confortos. A experiência transforma o espectador em agente ativo, influenciando o desenrolar da ação.

A ideia central é que o conteúdo se torna programável, diluindo as fronteiras entre produtor e espetador—uma nova categoria de media onde trading e interação em tempo real moldam simultaneamente o produto.

Estes modelos de interação ainda estão numa fase embrionária, mas representam uma oportunidade para inovar, sobretudo se conjugados com mecanismos como social tokens.

Interfaces Inspiradas no Tinder

Experiências em que o utilizador negoceia ativos com um swipe à esquerda/direita—à semelhança do Tinder—estão a emergir. Seja para apostas, mercados de previsão ou operações de trading, este paradigma favorece decisões rápidas e simples.

Esta abordagem é especialmente eficaz em mercados de previsões de curta duração, como contratos sobre o próximo lance de futebol. Pode facilmente ser adaptada a transmissões em direto, desde galas como os Óscares às notícias diárias, promovendo envolvimento e receitas através da monetização do fluxo de negociação.

O conceito foi recentemente discutido por Kyle no X, gerando interesse e respostas. O paradigma de deslize prioritário promete negócios inovadores, com exemplos já no mercado: Hookt, Memelut e Guess.best (modelo de confronto direto).

Negociação por Toque

No Euphoria, a aposta faz-se com um simples toque no ecrã—o utilizador escolhe um ativo e prevê o preço em determinado momento. Trata-se, no fundo, de uma opção de barreira, produto normalmente reservado para clientes sofisticados de Wall Street. A Robinhood lançou recentemente uma funcionalidade semelhante chamada trade from chart.

O Euphoria elimina a complexidade, oferecendo esta ferramenta numa interface gamificada, intuitiva e rápida. É altamente interativa. A comunidade cripto espera produtos estruturados desde 2021, e o modelo negociação por toque pode finalmente destravar este potencial.

Esta mecânica pode também ser usada em jogos mobile com dinheiro real: cada toque é uma aposta e a infraestrutura cripto garante pagamentos instantâneos e seguros aos vencedores.

Novas Modalidades, Novos Unicórnios

Com o trading integrado em todo o software, a separação entre cultura e finanças esbate-se—ativos efémeros nascem de tendências e criatividade digital. Neste contexto, a atenção gera liquidez, e a liquidez alimenta mais atenção.

Estas apps vão tornar-se referência para descoberta, negociação e entretenimento, dominando o fluxo de ordens e maximizando receitas e resultados.

Não serão meras carteiras de armazenamento e portefólio, mas plataformas de socialização, negociação e descoberta de ativos. O trading oferece um sinal de envolvimento muito mais forte que likes ou partilhas, pois implica assumir risco financeiro. Algoritmos de IA vão incorporar sinais das operações para personalizar experiência, mesmo para utilizadores com trading desativado nos seus feeds de rolagem contínua.

O futuro das finanças vai muito além dos tradicionais visualizadores de portefólio, estendendo-se a todo o software.

Procuramos modalidades de trading inovadoras. Se estiver a construir nesta área, contacte-nos: (Vishal, Shayon, Kyle).

Disclaimer:

1. Este artigo foi reproduzido a partir de [multicoin]. Todos os direitos reservados ao autor original [Vishal Kankani e Shayon Sengupta e Kyle Samani]. Caso exista alguma objeção à reprodução, por favor contacte a equipa Gate Learn, que tratará do assunto de forma célere.
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